27.11.08

Todo o pensamento de um homem é em si mesmo I, II e III

Em conversa com a minha cadela Diana, proferi:
- «És uma egoísta! Só pensas em ti

Foi então que me dei conta que ela é que estava certa. Todo o pensamento de um homem é em si mesmo, isto é, todo ele acontece na cabeça ou na mente de quem o pensa - ou no que se designe como sendo o local do pensamento.
Mesmo quando o comunica.
Óbvio? Então para quê dizer que se pensa no outro?... Se NUNCA isso pode acontecer. Apenas de modo abstrato, imaginado.
O Criador fez-nos fatalmente egoístas, nenhum homem, por mais que o deseje, pode pensar no outro, o mesmo é dizer, na realidade. Daí que de todo o conhecimento produzido pela humanidade jamais algum aconteceu na realidade. Como condicioná-la então legitimamente a partir dele?
É que o Amor é assim... há quem diga cego, não faz distinção entre o pensar em si e no outro, apesar dela (ainda) existir.

Uma das causas do estado de alienação do homem de si mesmo é o de haver se esquecido de que apenas está habilitado a pensar em si, de que mesmo os pensamentos que produza sobre o outro ou a realidade ocorrem em si mesmo, o que os faz estar a ser sempre sobre si.
Não ocorrendo, hipoteticamente, os pensamentos em si, onde poderiam eles estar a ocorrer? Em que ser que não o sujeito que pensa? No que é pensado? Não. Em ser nenhum. Que crédito atribuir a pensamentos desencarnados do ser pensante? O que esperar do ser que se pensa e que se torna ausente para si mesmo, ao se tornar ausente dos seus próprios pensamentos?

Onde mora ele? O homem?
Faltando cada homem a si mesmo, como pode haver um real nós?
O que é feito de nós?
Do nosso Amor por nós mesmos...
Da nossa Vida?...

O homem é aquilo que pensa, diz-se.

E quando se pensa sobre o que não se acha que se é? O que resta ao homem ser? O corpo que pensa? Mas como pode o corpo criar o que não é? O que logo rejeita ser?
Como mãe que mata o filho, como artista que destrói a sua obra.
De que vale afinal ocuparmo-nos? Do que não somos?
Para quando do que somos?...

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