«Aqui na Península [Ibérica], o Oriente e o Ocidente, a pré-história e a história, o mito e a razão, como coincidência de coordenadas de espaço, tempo e pensamento, no homem e na terra, se unirão no exacto ponto e momento de 1500. No ano de Pedro Álvares Cabral: esse será o sentido dessa falha ou união entre dois séculos; a descoberta do Brasil foi o fechar do círculo, conclusão do novo mar.
Mas agora outra vinda dos Descobrimentos se fará para os homens e para a Terra num homem e numa terra transcendentes, transfigurados, porque na vinda, baptismo no fogo, do Espírito Santo.
O espaço agora a conquistar será o transcendente interior, seu.
E agora pelo homem pelo Cristo novo, na sua Segunda Vinda, tudo passará de terrestre ao cósmico, transcendente.
Para a nova eleição e serviço duma nação, urge pela primeira vez atentar na sua posição no espaço da terra, por uma geografia sagrada. E na sua vinda no tempo, por uma história que nela também se veja de sentido sagrado. Ver aí a sua eleição e serviço, na intercepção do tempo e do espaço. Porque tudo se fará por uma nova visão de tudo que está dada mostrada já.
Seis séculos após, a verdade dos Descobrimentos se abrirá, se libertará. Como seis décadas após, Portugal se libertou do jugo castelhano. E após outras seis décadas, o anúncio da verdade pela Renascença Portuguesa, virá por fim à luz. Como germinações e eclosões de sementes escondidas.
E também então se revelará a verdade da saudade.
Saudade é a polpa do eu eterno.
Porque a saudade não é conclusa em si, mas seu sentido está no seu ultrapassar. Saudade é tempo de gestação.
E a terra finalmente como Virgem, subirá em Assunção ao céu.
E ver que união, como fusão final de fogo e água, se teria dado aqui nestas margens peninsulares: pelo afundamento do disco rubro do Sol, nas águas de Posídon, como fusão do deus dos povos da velha Atlântida e de Apolo o deus dos povos da Grécia (...).
A terra finalmente unida ao céu, ou Apolo a Gaia, ou a Serpente ao Sol, em enlace último, como promessa dum novo mundo, a nascer.
O ser saudoso é o ser livre na necessidade, o ser da eternidade no tempo. O que traz para a lei da terra a lei do céu. Ou a eternidade para o devir.
E assim ao discurso se substituirá essa supra-razão e a unidade do paraíso de novo será atingida.
(...) só, aí, na brancura cintilante e doce (a tal inefável), do seu seio último. Semente do fruto. Trono do mundo. Coração do homem.
A saudade é o segredo de Apolo.»
Dalila Pereira da Costa, A Nova Atlântida (1977)
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