20.11.08

Carta aos afagos do Vento

Encurvo-me perante o silêncio do mar.

Olho para o horizonte e entrego-me à linha do destino.
Por vezes, a geografia é uma esquina escondida. Pensei que desta não o fosse.
Mas a distancia existe. Eu, aqui! Tu, aí!
Talvez um dia nos seja favorável. Talvez?

Penso nas tuas palavras. Permanentemente!

Dizes que há demasiado sentir nas minhas linhas.
É natural! Faço amor com as palavras. É por elas que expresso o meu desejo e o meu querer.
Faço-o com toda a plenitude da minha livre vontade. Faço-o porque me sinto correspondido.

Não posso ansiar pelo teu abraço? Ou por descansar no teu peito?
Nem vale a pena dizer que não porque não o consigo impedir.

Sim. Eu sei que as circunstâncias são distintas. Mas sê-lo-ão para sempre? E mesmo que assim aconteça quer isso dizer que não sentimos o que sentimos? Quer isso dizer que os momentos que temos não foram intensamente sentidos?

Ah! Há alturas em que apenas nós somos. Tudo o resto jorra da nossa origem!

Contudo, também há, realmente, a possibilidade de abrandar.
Se te for necessário, jamais imporei a minha vontade. Mas as cores não voltarão a ser as mesmas nem nós voltaremos a ser iguais.

O que nos faz, toca-nos profundamente. Tanto que abala as colunas da existência pelo reconhecimento do que já houve.
É o antigo que chama por nós! E eu ouço esse canto.

Falaste-me em lágrimas no chão. Recordas?
Respondi-te que as tuas lágrimas tinham era caído no meu coração, onde as tinha recebido e guardado por serem manifestações do teu amor. Recordas?

Pois as tuas lágrimas já são um oceano de sentir no meu coração. E o tempo fará delas um universo. Porque eu vou ama-las e acarinha-las. Porque nelas também quero ser.
Só assim criaremos o, e no, MULTIVERSO.

Encurvo-me perante o silêncio do mar.

Venho aqui à procura dos afagos do vento. É por eles que sinto os teus beijos.

E peço-lhes, humildemente, que levem os meus até ti.

Sempre,
V.

in Comentários na face da Noite


Vicente Ferreira da Silva

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