26.1.09

Reino do Espírito

(Hoje, vai ter que ser mais isto...)

O custo do homem ser o que é, de já ser do mundo que ainda não veio: do Espírito (Santo), é não ver este mundo como ele é, como o fazem as crianças/animais (em que o espírito se mantém unido ao corpo inconsciente).
O mesmo espírito que o unirá ao outro mundo (ao original do qual este é reflexo) é o que o faz estar separado deste. Isto, enquanto o homem se mantiver achando ser apenas a sombra de si mesmo. Enquanto se achar apenas sendo o que está, e não o que é. Apenas o tempo, e não o eterno. Apenas o visível, visto através do invisível, e não o invisível vivido através do visível.

A condição do espírito encarnar no corpo é a de adormecer, tornar-se inconsciente, ao ser desse modo que o corpo vive.
O adormecimento do espírito representa assim o acordar do corpo, o despertar da vida, porque ao adormecer o espírito não morre: nasce, deveras, unindo-se à sua origem. Pois o estado original do espírito é a sua própria ausência.

É o corpo mudo e inconsciente que transporta o espírito, porque é esse o estado natural deste:

A vida da matéria baseia-se na morte (no sono) do espírito.
Por seu turno, a vida do espírito baseia-se na morte da matéria.

Sustentam-se, portanto, mutuamente.
E assim andam, até que a vida dela (da matéria) coincida, finalmente, com a vida dele (do espírito).

«(...) Mas a alma ressuscitará sem prejuízo do corpo. Há entre ele e ela um mal-entendido, que necessita de findar.»
Teixeira de Pascoaes, O Homem Universal

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