21.3.09

A Loba do Sol













«Anima mea

Estava a Morte ali, em pé, diante,
Sim, diante de mim, como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.

Era de ver a fúnebre bacante!
Que torvo olhar! que gesto demente!
E eu disse-lhe: «Que buscas, impudente,
Loba faminta, pelo mundo errante?»

- «Não temas, respondeu (e uma ironia
Sinistramente estranha, atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria).

Eu não busco o teu corpo... Era um troféu
Glorioso de mais... Busco a tua alma.» -
Respondi-lhe: «A minha alma já morreu.»


(...) sendo a Morte, sou a liberdade.

A ti, mulher, a ti [o Senhor] deu-te o mistério
De matar ou [e] dar vida...

Só, à luz da saudade, o passado aparece
Antero de Quental, Poesia Completa 1842-1891

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