Caríssimo, uma paisagem habitável, não só por causa da casa, mas porque as casas só são habitáveis se albergarem rotas, forem casulos para crisálidas de viagem. A casa é um embarcadouro, é de lá que as almas partem para cima, quando chegada a hora se dão à viagem suprema, também é uma barca, a casa, onde as travessias ganham sentido e só há regresso se houver casa, esse lugar dos lugares, onde a atopia do que somos se torna durável e ganha contristura e consistência. Só dentro da casa o choro se torna pranto e a saudade, acontecimento. por isso esse é o lugar próprio da solidão nefasta e não o ermo, propício à solidão que eleva e expande. Agora não sei, amigo Soantes, graças a que sortilégio conseguiste (e o tu é dirigido à tua relaeza, os homens do povo eram os únicos que podiam tratar os reis por tu) colocar tudo isto numa fotografia. É a magia da fotografação! :)
É a mágica do teu raciocínio, que agradeço. Ao ver aquela imagem intui uma série de sugestões, incluindo as que desenvolveste aqui. Sem o sentido espiritual para que alertas a arte não chega a ter beleza, torna-se um simulacro.
Nesta Ilha há um só Rei: o Amor há uma só Lei: a Liberdade
Em realidade não há nela bem nem mal apenas seres recriando uma mesma Ca(u)sa
Nossa Senhora da Conceição
Rainha do Mar - Creio (Música de Ana Moura)
Fundada por Fernando Pessoa, antes de todos os tempos e de todos os lugares. (E depois também.)
A este espaço do tempo em que os limites são ocos apenas chegam os loucos os amantes sem teto sedentos da plena liberdade de Ser em verdade Nada e Tudo O Presente o Passado
Como ondas do mar dançam em mim os pés do teu regresso.
Há muito que deixei aquela praia De grandes areais e grandes vagas Mas sou eu quem na brisa respira E é por mim que espera cintilando a maré vasa.
No mar passa de onda em onda repetido O meu nome fantástico e secreto Que só os anjos do vento reconhecem Quando os encontro e perco de repente.
O mar azul e branco e as luzidias Pedras – O arfado espaço Onde o que está lavado se relava Para o rito do espanto e do começo Onde sou a mim mesma devolvida Em sal espuma e concha regressada À praia inicial da minha vida.
De todos os cantos do mundo Amo com um amor mais forte e mais profundo Aquela praia extasiada e nua onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Casa branca em frente ao mar enorme, Com o teu jardim de areia e flores marinhas E o teu silêncio intacto em quem dorme O milagre das coisas que eram minhas.
Não há fantasmas nem almas, E o mar imenso, solitário e antigo, Parece bater palmas.
Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade.
Reino de medusas e água lisa Reino de silêncio luz e pedra Habitação das formas espantosas Coluna de sal e círculo de luz Medida da Balança misteriosa
Vem do mar azul o marinheiro Vem tranquilo ritmado inteiro Perfeito como um deus, Alheio às ruas.
O sol rente ao mar te acordará no intenso azul Subirás devagar como os ressuscitados Terás recuperado o teu selo, a tua sabedoria inicial Emergirás confirmada e reunida Espantada e jovem com as estátuas arcaicas Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto Sophia de Mello Breyner Andresen
2 comentários:
Caríssimo,
uma paisagem habitável, não só por causa da casa, mas porque as casas só são habitáveis se albergarem rotas, forem casulos para crisálidas de viagem. A casa é um embarcadouro, é de lá que as almas partem para cima, quando chegada a hora se dão à viagem suprema, também é uma barca, a casa, onde as travessias ganham sentido e só há regresso se houver casa, esse lugar dos lugares, onde a atopia do que somos se torna durável e ganha contristura e consistência. Só dentro da casa o choro se torna pranto e a saudade, acontecimento. por isso esse é o lugar próprio da solidão nefasta e não o ermo, propício à solidão que eleva e expande.
Agora não sei, amigo Soantes, graças a que sortilégio conseguiste (e o tu é dirigido à tua relaeza, os homens do povo eram os únicos que podiam tratar os reis por tu) colocar tudo isto numa fotografia. É a magia da fotografação! :)
É a mágica do teu raciocínio, que agradeço. Ao ver aquela imagem intui uma série de sugestões, incluindo as que desenvolveste aqui. Sem o sentido espiritual para que alertas a arte não chega a ter beleza, torna-se um simulacro.
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