8.2.09

A Vida é o Movimento da Morte

«I. Pergunta o homem ao seu espírito: «Que me dizes tu da morte?»
«(...) a morte... és tu próprio!»
V.«Eu - o ser que vive?»
VI. « - Sim; tu és o ser que vive; mas o que foste ontem já morreu. Não lhe vês o seu fantasma? (...)
Tu não és o ser vivo, meu caro! (...) Tu és o ser que revive, a cada instante, ou, melhor ainda, o ser onde a morte se repete.
O que tu imaginas vida é a morte deslocando-se, no tempo, a morte em acção, a esgotar o Futuro (...)
E tu és a criatura humana, o meu espectro... O teu reino é o da morte. Não receies a morte... isso a que tu chamas morte.»
IX. «A sombra do túmulo apavora-me!»
X. « - Sim, o que te causa pavor não é o túmulo; é a sua ideia, ou antes, como tu disseste, a sua sombra...
O homem gosta de macaquear o espírito... O homem, quando vê uma cousa, cria logo a sua ideia... Como se, entre esta e aquela, pudesse haver parentesco!
Meu caro amigo, o espírito ri-se das ideias, como as árvores se devem rir do lápis que as desenha...
A contemplação do Espírito exalta e aperfeiçoa; mas não tentes imitá-lo.»»
Teixeira de Pascoaes, Verbo Escuro

2 comentários:

fas disse...

O Teixeira de Pascoaes, aqui, antecipou o Krishnamurti. É toda uma teologia negativa bem vívida que está aqui. Boa lembrança, Anita.

Unknown disse...

Não conheço o Krishnamurti...
Este está associado:
«talvez que mortos nos sonhemos vivos
talvez que vivos nos saibamos mortos»
Teixeira de Pascoaes, "Regresso ao Paraíso"