29.3.09

A Ilha dos Diamantes

«Ao meio da ponte que atravessava o rio mar, a água começou a subir sempre e agora a ponte era somente visível, apenas à transparência.
Olhávamos os barcos pontiagudos que esperavam com os homens de remos pousados mais longe na penumbra sob as ramagens: viriam ao nosso encontro?
Então a Amiga (a que tinha anunciado e trazido aqui à casa a morte definitiva sobre a terra) explicava pousada na água:
- A Ilha dos Diamantes, eles são assim (e fazia o gesto, ligando em círculo o polegar e o indicador): E os índios que nela ainda vivem, nos vestígios da floresta primitiva, eles sabem.
- Onde fica? - perguntei. Mas ela calou-se. Depois, vagamente, disse:
- Junto, fica Juiz de Fora.
Então bruscamente (foi sentido cá dentro no corpo todo, como a morte possível), o mar desceu e agora a ponte elevava-se sobre um vastíssimo leito de terra clara e ressequida, estendendo-se de horizonte a horizonte. Onde antes existia a água que dividia o norte do sul do país. Ou um continente do outro. Depois voltávamos para trás. Regressamos?: à praia ou a casa?
No livro dicionário, a sala da sua casa solar estava traduzida: jardim de Inverno transparente.

(Ah, largo rio mar de súbito consumido. No leito calcinado da terra. Passagem a seco para a Terra da Promissão.)»
Dalila Pereira da Costa, A Nau e o Graal

Sem comentários: