29.6.09

além-tudo; Alentejo



não te vejo
além do fim e da piedade das ondas de depois do fim
as preces dormentes habitam o interior dos rochedos
o avesso da inquietação de não ser um com o que não há
as contas do rosário de estar aqui
são feitas de sementes de girassol
rodam-me nos dedos em compassos acesos de não ter nascido
abro as asas do esquecimento e fico a pairar de cabeça para baixo
sobre o abismo de não me querer
há um céu invertido que entra pelo chão e toca as fímbrias do impossível
lá onde rios de lava arrefecem a temeridade de querer estar morto e sentir todas as penas dos infernos inclementes
é a minha cegueira
a parede de lonjura que cerceia o horizonte
aqui me recuso à sedentária parição do amanhã
aqui só quero da noite a consumição do desespero
lençóis de linho em alvas solturas de estar enfermo de totalidade
pasto do vento e da continuação
aqui
o chão demora a tornar-se completo
fermentação do que não acaba

4 comentários:

Unknown disse...

É bom ver-vos por aqui, de volta. :)

Um beijinho.

Semente disse...

Que bonito, este regresso.

E eu, regressada também, venho ver esta Ilha de Luz*

Paulo Feitais disse...

Oi Anita...
Eu não desapareço... O tempo é que se torna difícil de gerir. E há interregnos. Com um internamento hospitalar pelo meio (o susto, felizmente, parece que já passou, mas continuo furtivo aos médicos).
Um beijo imenso!

Sereia!
Um beijo!

Unknown disse...

Mesmo assim, continua a fugir aos médicos, e aos medicamentos, sempre que possas.
(O corpo é inteligente demais para os 'homens científicos' - simples demais.)